Minha longa jornada para a maternidade

Renata Chilvarquer Citron
5 min readSep 18, 2022

[Sobre o meu desejo de ser mãe]

Eu não nasci querendo ser mãe, mas o desejo bateu mais forte quando fiz 30. De repente, o meu amor e loucura que eram quase exclusivos para cachorros começaram a se dividir com bebês e comecei a notá-los por aí..

A vinda de sobrinhos e dos filhos de amigos foi aguçando mais esse desejo ao longo dos anos, mas como estava na minha fase empreendedora, não achava que era possível conciliar dois empreendimentos tão grandes na vida.

Detalhe que o meu negócio era justamente sobre desenvolvimento na 1a infância, e apesar de ter visto o quão desafiador é cuidar e criar de uma criança, eu não desisti! hehe.. Ao contrário, meu aprendizado me trouxe mais repertório, mais consciência e ainda mais forte o desejo de ser mãe. Pensar sobre como ajudar a criar um ser humano, passar valores, lidar com os conflitos e o pacote todo da maternidade me despertou intensamente esse sonho e fez com que ansiasse pelo meu baby..

Lontras como tiozões babões com sobrinhos e filhos de amigos

[Sobre falta de controle]

Demorei quase 3 anos pra me permitir a tentar engravidar e sempre soube que demoraria pra engravidar. Sendo uma doida de planejamento e wannabe control freak (o Beni q é o control freak oficial), eu achei que podia começar a tentar com 33, pensando que no pior dos casos ia ter a criança até os meus 35.

Já sabia que uma grande lição da maternidade era abrir mão do controle, mas obviamente essa lição ia vir com toda força pro casal de control freaks.

Passamos um pouco mais de 1 ano tentando engravidar naturalmente, pra depois passar pra intervenções hormonais por mais 4 meses e finalmente ir pra fertilização (FIV) por mais de 1 ano. Pra mim, a pior foi a fase de tentar engravidar sem intervenções. Depois do primeiro semestre, a frustração de não saber o que fazer pra controlar aquele processo me deixou super ansiosa. Aceitei todas as sugestões de mandingas, de comer geléias pretensamente abençoadas, fazer mikves (banhos judaicos de purificação), constelação familiar, e até quase cheguei a mudar meu nome em hebraico.. mas a permanente negativa mês após mês só me deixava mais doida ao tentar consertar o universo pra me fazer receber a tão ansiada alminha.. Quando passamos pra intervenção médica, apesar da bomba de hormônios, por incrível que pareça foi a fase menos angustiante, já que pelo menos tinha uma ciência por trás controlando o processo e estatísticas esperadas.

E afinal o processo foi bem-sucedido, conseguimos uma ótima produção de embriões na fertilização e conseguimos engravidar na 2a tentativa. O que não contava é que a estatística ainda poderia nos contrariar. Na 11a semana de gestação descobrimos que o baby tinha uma má formação e que não iria pra frente. Eu que já estava agendando as festas de revelação do baby com meu otimismo, perdi o chão..

O processo de indução de aborto também contrariou as estatísticas, e o que era pra durar de 24 a 48 horas virou quase 1 semana de sofrimento no hospital até meu corpo expulsar o baby.

[Sobre lidar com frustrações e luto]

Perder esse baby foi certamente a experiência mais difícil que já vivi. Sendo a pessoa ultra racional que sou, não fazia a ideia de como lidar com o luto, e achava que poderia dar um fast forward naquele sentimento de tristeza. Afinal, na minha cabeça, nunca tinha “tido" efetivamente aquele baby na minha vida, achava que tinha sido mais uma ilusão, e que poderia racionalizar o processo pensando que voltaria ao tratamento em breve. E que, enquanto isso, poderia surfar, beber e fazer td que gostava na minha vida anterior.

Mas descobri que minha racionalização não funcionava, e que não importava o que me dizia, não conseguia falar do assunto sem chorar. E sinceramente até hoje não consigo tanto..

Nosso mês de luto fazendo mil esportes

Mas fui entendendo a respeitar meu tempo e meu choro, entrei num período mais introspectivo e consegui sobreviver aos 3 meses até voltar o tratamento..

E foram mais 3 tentativas de FIV até finalmente dar certo. Obviamente com mais mta emoção e frustração, tendo perdido mais 4 embriões no processo, e sendo que nessa última tentativa, tínhamos engravidado de gêmeos, e o que não vingou estava arriscando a permanência desse que está aqui.

Mas graças a Deus, quase 3 anos depois, pudemos comemorar que estamos esperando um baby saudável!

[Sobre otimismo e a melhor rede de apoio]

O “silver lining” de todo esse processo foi que eu sempre mantive o otimismo e tive a melhor rede de apoio pra passar por tudo que passei.

Durante todos esses anos, eu nunca perdi a esperança, e me apegar a ela me fazia manter a fé de que ia dar certo. Era muito mais uma questão de “quando” do que de "se". Graças a deus, tive acesso a todos os melhores recursos médicos, psicológicos e principalmente o melhor parceiro pra viver tudo isso comigo.

Muitos casais têm suas relações abaladas pelas longas tentativas de engravidar, e sempre me perguntavam sobre como estava minha relação com o Beni. Sempre fui muito contundente em responder que essa era a melhor parte do processo. Tinha certeza que ele é e deveria ser o pai dos meus filhos, e viver todo esse sofrimento com ele só reforçou essa certeza. Ele foi em todos os médicos, participou das mandingas (mesmo não acreditando nelas), me deu as injeções, segurou minha onda e me deu força pra continuar, sem também nunca perder a fé.

Dividir com amigas e família também foi muito importante, escrever sobre o processo, compartilhar e aprender com quem me acolhia me ajudou demais. Eu sou naturalmente uma pessoa extrovertida, e apesar de entender que o processo exigia mais introspecção, compartilhar o que vivi trouxe muito mais significado pro aprendizado.

Então, 3 anos depois finalmente chegou a hora que estávamos esperando, e como nos dizem, tinha que ser assim! Que seja o início da aventura e jornada mais significativa que iremos viver, que venha a mini lontra! 🦦

Ultrassom mini lontra com 4 meses

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